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Os 7 pecados capitais das resenhas literárias ou pseudo-resenhas

Eu cometo muitos destes pecados...
Vamos conhece-los e tentar não pecar mais?

Os 7 pecados capitais das resenhas literárias ou pseudo-resenhas           Por iCult Generation

Um artigo recente do blog da Revista Fantástica me inspirou a escrever este, que eu já pensava em escrever há algum tempo. [vide link no fim do artigo].

Antes de entrar no mérito em si da qualidade [ou da falta desta] nas resenhas de muitos blogs “literários” por aí, eu vou dizer o que mais me incomoda em uma pseudo-resenha de modo geral: SPOILERS.
Sim, eu entendo que é quase impossível falar sobre o que realmente há de bom em um livro sem citar passagens dele, e/ou tecer comentários sobre alguns eventos da história. Mas pseudo-resenhas que se limitam a resumir a obra, especialmente aquelas que contam O FINAL, é algo que me faz realmente fugir de resenhas para não estragar o prazer da leitura para mim. Infelizmente, pois o objetivo das resenhas é atrair leitores e as pseudo-resenhas os afastam.
Vejam bem, não estou dizendo que eu nunca visito outros blogs para saber de novidades literárias ou que nunca leio uma resenha de outro blog. Eu gosto de ler resenhas bem escritas, que abordam o que há de interessante no livro resenhado, e não as que copiam a sinopse, acrescentam um mero “eu gostei”, ou “recomendo” e coisas do gênero no final. Mas as pseudo-resenhas que contam o final do livro são as mais revoltantes.
Quando alguém vai atrás de uma resenha, geralmente se busca saber o que pode ser atraente na obra para a pessoa que está lendo. Então, o que se menos espera é que o final do livro e/ou as coisas mais importantes da história estejam reveladas na resenha.
O que nos leva ao ponto mais grave em uma pseudo-resenha: ser um resumo do livro, do início ao fim.
Pecado # 1: Destruidor de prazeres mor: SPOILERS
Imagem original: laughingsquid.com
Eu entendo que alguns microspoilers sejam necessários em casos que, se não fosse revelado determinado ponto da obra, ficaria dificílimo convencer o leitor de que o livro realmente vale a pena ser lido. Por isso mesmo, quando eu ou algum de nossos colaboradores colocamos algum spoiler crucial, seja sobre filmes, séries ou livros, em nossas resenhas e em nossos artigos, buscamos sempre colocar um aviso em vermelho antes do texto, para que as pessoas não abram o artigo ou a resenha e, depois de começarem a ler, acabem se deparando com spoilers inesperados.
Dito isso, eu repito que entendo a necessidade de se colocar spoilers mínimos quando eles são importantes para a análise do motivo que levaria alguém a ler determinada obra. Mas é legal [além de ser respeitoso] avisar o leitor de que ele poderá encontrar spoilers na resenha.
Ainda assim, a concepção de spoiler é um tanto quanto pessoal, mas deve haver algum limite. Tem gente que considera citações do livro tremendos spoilers, e eu discordo em parte. É claro que as citações devem ser escolhidas de forma que não se revele totalmente a trama com apenas uma frase mal escolhida. É difícil escolher os melhores trechos e, por isso mesmo, eu seleciono sempre vários  que considero interessantes, com algumas dezenas de post-its marcando-os no livro [pois é mais fácil ir fazendo essa seleção durante a leitura], seja pelo tema citado ou pela qualidade da escrita, pois, na minha opinião, é importante que se apresente a escrita do livro, pois algumas [muitas] pessoas gostam de saber não somente se a história é interessante, mas se o estilo de escrita e narrativa do autor é um que lhe agrade.
É claro que escolher a fala final do livro, por exemplo, em que o herói finalmente revela o seu plano, na maioria dos casos, vai ser um tremendo desmancha-prazeres. Ninguém é perfeito, aliás, a perfeição é algo assustador, mas creio que quando alguém se dispõe a fazer uma resenha, está lidando com o público, assumindo uma postura que muitos não vêem como algo profissional, apenas porque não recebem um salário para escrever, e acham que podem falar o que quiserem, afinal, “o blog é meu, não?” Não, não pode “fazer o que quiser” se o blog não for totalmente pessoal, mais como um diário das impressões da vida, da arte, enfim, as impressões gerais que uma pessoa tem do mundo a seu redor. Se você optar por fazer resenhas, estará lidando com o investimento por parte das pessoas, de dinheiro na compra de algo, então, uma propaganda enganosa é extremamente prejudicial.
Mas então, o que é exatamente uma resenha?
A resenha é uma análise crítica de um texto escrito, geralmente, um livro. Há regras específicas para resenhas acadêmicas, daquelas que são publicadas em revistas especializadas e, embora as resenhas nos blogs sejam mais livres, algumas das regras para a resenha acadêmica podem e devem ser seguidas.
Uma definição maior de resenha aponta para o fato de que se trata de um estilo de composição textual em que se constrói relações entre as qualidades, linguísticas, de abordagem da temática textual, de desenvolvimento de personagens, consistência e coerência da narrativa, entre outros pontos que compõem as qualidades necessárias de uma obra, que são muitos e diversificados, dependendo inclusive do estilo do livro resenhado. É necessário, é primordial para falar a verdade, que sejam apontados na resenha aspectos considerados relevantes sobre a obra resenhada.
Quando se trata do segundo, terceiro, etc. livro de uma série, espera-se que a resenha contenha pelo menos alguns spoilers do(s) livro(s) anteriores, mas a regra de não-spoilers do livro resenhado continua valendo, sempre. Já que resenha é bem diferente de resumo e não deve ser uma “síntese” dos acontecimentos do livro.
Por ser uma “análise crítica”, a resenha deve expressar opiniões, embora muita gente discorde disso. Há sim que se expressar a opinião de quem leu o livro, mas ela não deve, de forma alguma, se limitar ao “gostei”, “amei” e coisas do gênero. O resenhista deve expressar sim sua opinião pessoal, assim como seus julgamentos em relação à obra resenhada.
Pecado #2: Escrever uma resenha como quem falaria do livro para os amigos, e não para o público leitor (em geral).
Eu acho extremamente triste e decepcionante quando leio uma pseudo-resenha que não só se limita a copiar e/ou modificar a sinopse do livro, como ainda que não deixa claro o que aborda a obra em questão ― e, no final da leitura da pseudo-resenha, ainda não fazemos ideia do que exatamente trata o livro, ou seja, a resenha não acrescenta nada ao que poderíamos ter lido na sinopse do livro contida na contracapa e/ou no site da editora ― e, pior ainda, quando tudo que está escrito na resenha refere-se a opiniões não relevantes, como a discussão de qual dos dois personagens do triângulo amoroso é mais interessante, mais gostoso, etc.
Sim, podemos e devemos expressar nossas opiniões nas resenhas, mas devemos nos lembrar de que elas devem ser relevantes para o público-alvo, que é o leitor.
Se o resenhista gostou demais do personagem X, Y ou Z, não vejo porque não mencionar isso. O que é ilógico é quando se menciona apenas “ah, eu adoro o K, e torço por ele! Sou Team K!” Bem, o que o personagem K tem de tão interessante para ter chamado a atenção? Se o resenhista gostou especificamente de algum personagem, é legal dizer o porque disso, e não vale dizer “porque ele é bonito”, assim como também dizer que não gostou da personagem feminina L não é legal dessa forma: “a L é uma tremenda duma vadia e não entende os sentimentos do K”. Isso não só não diz nada a quem vai ler, como incomoda. E muito. Já vi amigos meus, especialmente homens, reclamarem que muita resenha só tem comentários sobre os homens da trama [geralmente positivos, mas porque são gostosos, charmosos etc. e não positivos no sentido que deve ser abordado por uma resenha...] e comentários negativos sobre as mulheres. Os ataques de fangirl/fanboy não devem fazer parte da resenha, pois eles nada têm de críticos e não trazem nada a quem vai ler a resenha, além da irritação suprema ao terminar de ler e não ter captado informações realmente úteis na pseudo-resenha, claro.

Eu mesma já tive de buscar inclusive resenhas escritas por americanos para conseguir extrair alguma informação útil que me levasse a ler os livros pelos quais eu já estava atraída. Não que eles sejam os únicos no mundo que escrevem resenhas que vão mais direto ao ponto, mas confesso que várias vezes, infelizmente, apenas resenhas americanas realmente me fizeram sentir vontade de ler determinados livros. E por que isso acontece?
Não pode ser apenas devido ao fato de que os americanos aprendem a fazer análise crítica logo no ensino médio (high school). Pois o ser humano tem a capacidade de aprender, mesmo na idade adulta. Portanto, o que justifica tamanho descaso com as resenhas? E nivelar para baixo, dizendo que no Brasil as coisas são diferentes, temos que nos adaptar, para mim é algo tão grave, pois se conformar com o menos ruim é contra a evolução do ser humano como espécie.
Exemplo? Digitei uma frase comum que vi em várias resenhas sobre um mesmo livro no Google e encontrei 6.650 ocorrências da mesma frase em blogs ― que copiaram a sinopse ou, pior ainda, mudaram uma ou duas palavras da sinopse para disfarçar a cópia. É muita falta de respeito com o leitor, com os livros e com as editoras, de modo geral.
Pecado #3: Peguei o livro para resenhar numa parceria e odiei por diversos motivos, mas não posso falar mal. Ou seja, a MENTIRA.
E os leitores? Como ficam ao comprarem um livro indicado como bom (sendo que há centenas de defeitos)?
Resenhas que só apresentam aspectos positivos do livro tendem a ser mentirosas. Vejam bem, eu disse “tendem a ser”, pois, por exemplo, a política de resenhas no nosso site é bem clara: resenhamos apenas obras das quais gostamos ― é claro que as resenhas são escritas por colaboradores diversos, além de mim, e a resenha escrita por X ou Y vai expressar a opinião dele ou dela, mas exigimos que nossos resenhistas sejam sinceros em seus textos. Ou seja, sim, todos os livros que resenhamos aqui são considerados importantes, bons, relevantes, mas procuramos sempre dizer o porque disso e, especialmente, apontar o público-alvo.
Uma forma de mentira, ou melhor, “distorção da verdade“, muito comum são as resenhas que apontam erros de tradução, revisão, impressão, etc. e que terminam com a frase “nada que impeça o entendimento da leitura“. Não há que se massacrar um livro se ele apresentar erros como a troca de uma letra a cada 20 páginas, mas é preocupante dizer algo como “a fluência da leitura não é prejudicada pelos erros”, quando tais erros começam na capa e estão presentes em cada parágrafo da obra, seja nacional ou traduzida.
Pecado #4: Não especificar a quem poderia interessar a obra.
Novamente, é um campo delicado o qual vou percorrer agora. Não concordo quando se diz que um livro é adequado para a faixa etária de X a Y anos, ou que, pior ainda, esse livro é “de menina”, aquele livro é “de menino”, opiniões machistas e sexistas são extremamente irritantes e perpetuam ideias pré-concebidas e, muitas vezes, preconceituosas. E aí passamos pelo portão do reino do pecado número 5.
Exemplo 1:
Esse livro fala sobre peixes.
Exemplo 2: 
O filme A mulher do viajante no tempo é um filme de romance lindo. O cara ama a mulher e… …aé ele também viaja no tempo. FIM.
Ex1. E se a pessoa ama apenas peixes malhados (o que a “resenha” deixou de comentar), ou se apenas curte peixes dourados? Dizer mais detalhes sobre a história (referências sobre o meio, mensagens interessantes, etc.). Ex2.: Um Fail ainda maior por não indicar os paradoxos temporais, suspense do filme, o drama em face do que tentamos remediar. Quem não gosta de romance mas curte essas coisas pode se interessar e muito e viajar nas teorias uma tarde inteira depois de assistir o filme (como foi meu caso, que agora quero ler o livro).
Pecado #5: Resenhas sexistas. Elas não são apenas irritantes, são ofensivas.
Uma das coisas que mais me incomoda em resenhas, mesmo as que são boas, é o sexismo. É algo tremendamente irritante dizer que “mulher gosta de romance” e “homem gosta de batalha”. Embora seja verdade para algumas pessoas ― eu disse que estava entrando num campo delicado ―, talvez o seja justamente porque tais hábitos são propagados por uma sociedade que ensina as meninas desde pequenas a gostarem de bonecas, sonharem com um casamento de princesa e coisa do gênero. É lamentável propagar tais ideias. E ofensivo.
Autores que dizem que colocaram “romance para agradar as mulheres” em seus livros também estão sendo ofensivos.
Sei que determinados livros são feitos especialmente para o público feminino, como é o caso do gênero “chick-lit”.  Literalmente significa: “literatura pras minas”. Para falar a verdade, eu acho o termo “chick-lit” em si meio ofensivo, mas é um gênero que existe e não pode ser ignorado. Porém, mesmo alguns livros considerados chick-lit podem ser atraentes a um público masculino, pela temática abordada por ele. Por exemplo, um livro que eu creio que muitos homens deveriam ler [e que resenharei aqui futuramente] é “Diários de consumo de Beck Bloom”. Sim, porque ser consumista e ser levado ao extremo do consumismo não é algo “inerente a mulheres” ou que acontece especificamente no cotidiano feminino. Além disso, o desdobramento de como a personagem principal lida com as consequências de seu consumismo não apenas é hilário, como joga uma luz para várias pessoas que já se encontraram na mesma situação. Ou seja, sim, o público-alvo é feminino, mas é um livro que pode interessar a homens também.
Eu acho mais legal ainda quando leio uma resenha bem feita sobre algum livro com temática “feminina” feita por um homem, e pretendemos colocar mais resenhas de livros considerados “femininos” feitas por homens aqui, pois esse preconceito quanto ao que se pode ler, seja homem ou mulher, é ridículo. Porém, quanto mais se propaga que determinado livro é “para homem/menino” ou “para mulher/menina”, mais se ajuda a propagar as atitudes que levam ao bullying literário. Se um menino ou homem for visto lendo um “livro de menina”, com certeza ele vai, no mínimo, receber olhares atravessados. É lamentável tal atitude, assim como é mais lamentável ainda propagar tais ideias. Um livro é bom ou não. Há tanto homens quanto mulheres que gostam de temas diferentes em literatura, no cinema e na TV. Generalizar, na verdade, é um pecado não apenas em resenhas, mas em tudo na vida.

A importância da delimitação do público-alvo:
Por isso eu chego no ponto da importância de se dizer a quem o livro pode agradar mais, sem chegar no extremo de afirmar: “Se você gosta de Harry Potter, vai gostar de [insira aqui algum nome de livro que aborda o tema magia/bruxos/escola].” Ou, o que acho ainda pior: “O livro é uma mistura de X [insira aqui algum filme famoso recente] com Y [insira aqui o nome de algum filme/livro famoso recente, mesmo que ele não tenha nada a ver com o outro, e o único ponto em comum seja, por exemplo, que o personagem principal é um garoto de 16 anos]. E tem também o clássico: “O livro é um Z [insira aqui o nome de alguma obra clássica, renomada, contemporânea ou não] com mais ação, violência e cenas de sexo.”
Pensar nessas repetições de coisas pavorosas que aparecem nas resenhas da internet, nos levou ao próximo item da lista:
Pecado #6: Clichês das resenhas

Dessa mistura sairia o quê?
É no mínimo frustrante ler coisas como eu mencionei acima. E já cansei de ler isso. “O filme é uma mistura de Matrix com Drácula”. Sou só eu que imagino algo hediondo ao tentar entender por que diabos a pessoa escreveu isso? O que há em comum entre os dois filmes? Então os vampiros deste filme em questão sabem desviar das balas tão bem quanto o Neo de Matrix? Ou seriam eles criações do Arquiteto? Ou eles aprendem suas habilidades de vampiros da mesma forma que o Neo? Enfim, todo tipo de perguntas absurdas pode surgir com esse tipo de comparação sendo feita.
Não que você não possa citar semelhanças entre uma obra e outra ― comparações podem e devem ser feitas, se forem feitas observando aspectos específicos das obras, não generalizados. Esse artigo não tem o propósito de servir como cartilha de “como fazer uma resenha”. Eu mesma fui aprimorando e mudando a forma como redijo minhas resenhas, que variam muito de uma obra para a outra, mas procuro manter certos pontos em foco. No início eu não colocava muitas citações (certas vezes, até nenhuma), até perceber o quanto era importante fazer isso. Eu não posso dizer que minhas resenhas são perfeitas, mas eu tenho respeito pelo leitor e pela obra ao fazê-las.
Dizer que, se a pessoa gostou do livro X, ela vai gostar do livro Y, além de limitador, também afasta os leitores que não gostaram do livro X por n motivos.
Então quem não é fã vai odiar? FAIL logo na capa e totalmente desnecessário.
O mesmo se aplica às frases colocadas nas capas dos livros que, mesmo de autores que venderam muitos livros, não são realmente relevantes, ou são autores de livros controversos, com tanta gente que se divide entre gostar e odiar as obras, como é o caso da Stephenie Meyer ― já vi muita gente além de mim desistir de comprar o livro por causa dessas frases. Não vejo ninguém desistindo de comprar um livro pelas reviews do Stephen King na capa… pois é.
Voltando ao ponto, comparações são válidas. Mas o que poderia ser destacado, por exemplo, são pontos/elementos em comum com outras obras, e não se limitar a dizer coisas como “uma mistura de X e Y”.
No caso de Daybreakers, por exemplo, o que deveria ser salientado é que o filme mostra uma visão distópica do futuro em que os vampiros tratam os humanos como gado e que a fotografia do filme se utiliza de uma estética com planos de câmera e escolha de cores dos filtros – tom azulado, representando a face noturna (vampiros), tom amarelo representando a face diurna (humanos), deixando a impressão clara da diferença do mundo dos vampiros, introspectivo e limpo para o mundo dos humanos, impactante, errante e vívido.
Esse livro é uma mistura de “Monstro do Pântano” e “Onde vivem os Montros”. LOL.
Portanto, na verdade, além da presença de vampiros, não há quase nada em comum entre Drácula e Daybreakers, já que Coppola, em Drácula, serviu-se, por opção artística, de efeitos especiais antigos do cinema, ao passo que em Daybreakers – e aí sim vale a comparação com Matrix – o uso dos tons e a tecnologia para situar o espectador a definir em que “plano da realidade” ele se encontra.
Apenas um exemplo de como poderia ser feita tal comparação (já que a comparação que fizeram foi com Extermínio.) Mas os problemas de comparação de obras (colocando-as como iguais) continuam pela internet, como a comparação entre a Irmandade da Adaga Negra e Crepúsculo, entre centenas de outros absurdos que falam por aí.
Mas vejamos… eu falei de um filme agora. Já vi muita “resenha de filme”. Mas o significado de resenha, como vimos acima, está intrinsecamente ligado ao texto escrito. Sendo assim, não se resenha um filme, certo? Infelizmente já se espalhou o termo “resenha de filme” pela Internet, basta fazer uma pesquisa simples no Google. Mas a resenha é uma análise crítica de um texto escrito, então, eu costumo usar “review” para filmes, mas, se a pessoa não quiser usar a palavra em inglês, pode usar também a palavra “crítica” ― que eu não uso pelo simples fato de que, também pelo uso linguístico, a palavra “crítica”, infelizmente, é quase sempre associada a algo negativo. A resenha é uma crítica literária, a “review” de filme, é uma crítica de obra cinematográfica. O ideal, então, seria usar “review”, análise ou crítica para uma obra de cinema ou TV. Já que ela envolve outros elementos semióticos que não são os mesmos de um texto escrito.
Isso foi apenas para tirar uma dúvida, na verdade, embora me incomode quando vejo escrito “resenha de filme”, não creio que seja um dos grandes pecados capitais das resenhas em si.
Pecado #7: Resenha ufanista
Exemplo 1:
O livro foi escrito por um brasileiro, então ele é bom.
Exemplo 2:
Temos que valorizar a literatura nacional. Compre o livro X, porque o autor é brasileiro.
Isso me incomoda. Muito. Não mais do que “vendeu milhões de exemplares, ele é bom.” Mas incomoda.
Eu nem vou entrar no mérito de discutir que nem sempre tudo que vende muito é bom. Drogas vendem muito no mundo todo, a heroína é altamente consumida na Europa, e isso não quer dizer que heroína seja “tudo de bom”.
Outra coisa tremendamente chata é tentar forçar o leitor a gostar do livro mesmo depois de ele ter tentado ler e não ter gostado. É desgastante. As pessoas que comentam que você deveria dar uma nova chance, insistentemente, quando você não gostou da obra, acabam fazendo mais propaganda negativa do que positiva da obra, mas não é esse o ponto que vou destacar agora. Escolhi 7 Pecados Capitais das Resenhas e vou finalizar com o ufanismo.
Não é só porque o livro foi escrito por um brasileiro que ele seja bom e que todos devam ler, porque temos que valorizar o Brasil, etc. Não. Isso, além de afirmações como “Se você gostou de Crepúsculo, vai gostar do livro X, Y ou Z”, pode afastar os leitores, em vez de convidá-los à leitura. Dizer que o livro é bom por ser de autor brasileiro e/ou que você deve comprar [não importando se é tão bom assim, às vezes] só porque o autor é brasileiro são coisas que tendem a gerar indignação nos não-ufanistas. E com razão! Porque nem tudo que é criado/produzido no Brasil é bom. Assim como nem tudo que é criado nos Estados Unidos, na Espanha, na Inglaterra etc. é sinônimo de ser bom.
Eu sempre digo que Neil Gaiman é meu escritor contemporâneo predileto e mesmo assim mencionei numa resenha que não gostei de um conto dele, mesmo sendo um entre muitos. Porque devemos ser sinceros nas nossas opiniões. E o fato de o livro ter sido escrito por um brasileiro ― apenas tal fato, vejam bem, eu adoro ler livros de autores brasileiros que sejam realmente bons, adoro muito, mas convenhamos que dizer que você deve ler um livro apenas porque é de autor brasileiro não só não convence como acaba sendo uma atitude irritante.
Eu dou total apoio aos escritores nacionais com obras de qualidade, como a Helena Gomes, a Nazarethe Fonseca, entre outros, claro, pois é bom ver nossa literatura saindo da sombra e alcançando mais sucesso, pois, convenhamos também, é muito bom ler livros brasileiros novos, em vez de recorrer aos clássicos ou clássicos contemporâneos por falta de opção.
Mas eu não tenho vergonha alguma de dizer que não gostei de algum livro. Mesmo que metade da população da China tenha gostado, eu posso não gostar. Procuramos aqui no blog fazer, como eu já disse, apenas as resenhas dos livros de que gostamos mesmo, apontando referências, elementos que nos atraíram, etc., mas não temos medo de comentar quando não gostamos de algum livro se alguém nos perguntar. E ninguém deveria ter. Nós resenhistas, seja por profissão assalariada ou não, somos em grande parte responsáveis por uma grande parcela na formação literária das pessoas, então, se você não pensava nisso antes, comece a pensar: Resenhar não é apenas um hobby e muito menos uma forma de ganhar livros sem ter que pagar por eles.
LOL! :-D Quem não entendeu a piada não está jogando horas o suficiente :-P
Aqui no blog nós resenhamos também livros que compramos e dos quais gostamos, mesmo se forem de alguma das editoras parceiras. E de outras editoras com as quais não temos parceria também. Se o livro for bom, tiver a ver com nosso público-alvo de alguma forma, nós resenhamos.
Se somos responsáveis por incentivar a leitura, creio que a palavra de ordem seja responsabilidade. Colocar-se no lugar de alguém que vai ler o seu texto e tentar imaginar como você gostaria de ser abordado numa resenha é um bom começo.
Esse tema poderia render muito mais linhas escritas, mas, ao menos no momento, vou parar por aqui. Gostaríamos de saber de vocês, o que esperam de uma resenha literária? Quais são os pontos de destaque para uma boa resenha? Deixem seus comentários a seguir.
Artigo: Ana Death Duarte
Seleção/ Edição de imagens: Alonso Lizzard
Alguns artigos:
Artigo da Revista Fantástica que me levou a pensar em outros aspectos em relação às resenhas que eles não mencionaram.
O terror do possuir.
Como fazer uma resenha:
http://www.ronaldomartins.pro.br/materiais/resenha.htm
http://www.lendo.org/como-fazer-uma-resenha/
[os artigos lidam com a resenha acadêmica, como mencionei nesse artigo, mas serve como uma boa fonte de dicas para quem quiser adaptar as regras a algo não acadêmico, servindo como base informativa]
Exemplo de resenha analítica [crítica] – “Do livro Os Contos de Beedle, o Bardo” (se você não leu os livros da saga de Harry Potter, essa resenha contém spoilers porque este é um livro lançado depois do final da saga.)
Exemplo de resenha de livro de não-ficção – do livro “As roupas na história”

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